Mesa Redonda: O papel do livro na Educação Integral e Integrada

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O papel do livro na Educação Integral e Integrada foi o tema que fechou a última mesa-redonda da Abrelivros, no dia 29 de agosto, durante a 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Mediada por Pilar Lacerda, diretora-executiva da Fundação SM com largo histórico na área de educação, o debate contou ainda com Natacha Costa, diretora-geral da Cidade Escola Aprendiz, e Leandro da Costa Fialho, coordenador geral de Educação Integral da SEB/MEC.

Educação integral não é passar mais tempo na escola. Este foi um dos enfoques que norteou a mesa-redonda, quando Pilar começou a contextualizar o modelo de escola integral, evocando educadores como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. Tudo começou nos anos 90 com experiências de transformação radical da escola, que tinham como eixo central a discussão de tempos e espaços no ambiente escolar. Essa semente ajudou a germinar outros modelos de educação e aprendizagem, que nasceram mais contemporâneos, especialmente a partir de 2006/2007, com escolas referenciais em Nova Iguaçu, Belo Horizonte e São Paulo, como o Cidade Escola Aprendiz.

Pilar destacou inúmeros pontos, como o fato de que “já não é mais possível colocar crianças encharcadas de informação, paradas, escutando o professor falar para elas”. Será que o uso da Ritalina é realmente importante ou o modelo tradicional de escola é que não se sustenta e não funciona mais?

Antes, o livro era peça central no trabalho do professor. Aluno sem livro não podia ficar na sala. E o professor não sabia o que fazer sem ele. “A escola não é mais local para buscar informação, mas para tratar a informação, decupá-la, selecioná-la”, afirma. “O modelo de escola não se contemporizou”.

Com o tempo, começaram a surgir experiências mais ousadas e que dialogavam com o território e com a comunidade. Escolas com muros mais baixos, “e a gente agora espera que elas fiquem sem muros”. Nesse contexto, Nova Iguaçu, localizada na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, é referência fundamental para a gestão pública na estruturação e viabilização de programas em Educação Integral. E isso só foi possível porque em 2006 a prefeitura articulou uma política social na qual o eixo central era a educação, envolvendo as diversas secretarias e também outros setores e a comunidade de forma geral.

Quanto ao conceito de educação integral, Natacha Costa, do Aprendiz, ressaltou que “a educação integral é outra escola, outra educação. Escola não é igual à educação”. Para ela, para se compor uma educação mais efetiva é preciso o reconhecimento dos outros espaços educativos. Além de se considerar que a tecnologia permite aos jovens processos de aquisição do conhecimento que vão além da escola. E afirmou, ainda, que é fundamental reconhecer alunos como sujeitos de conhecimento e a comunidade como espaço educativo. “Por que criar um projeto de capoeira se no meu bairro há Escola de Capoeira já estruturada? A mesma coisa com escolas de circo, cinemas de bairro”, comenta Natacha, que acredita ainda que promover essas experiências faz parte da educação.

Essas ideias fazem parte do projeto Bairro Escola, desenvolvido pelo Aprendiz: uma proposta de aprendizagem compartilhada que articula e aproxima escolas, comunidades, organizações sociais, empresas e poder público, visando a promover condições para o desenvolvimento integral de indivíduos e territórios, com especial atenção às crianças, adolescentes e jovens.

Um dos exemplos citados foi um Sarau Junino, de que os artistas do bairro participaram. Outra boa iniciativa destacada foi a de um educador da zona sul de São Paulo que mapeia todos os programas culturais da cidade, verifica quais deles oferecem ônibus para escolas e vai tecendo uma teia cultural para seus alunos. “Circular pela cidade é um direito e confere autonomia ao sujeito.”

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Na mesma linha de Pilar, Natacha também enfatiza que a escola não deve ser mais apenas transmissora de conhecimento. “Quem vai ajudar esse jovem a decupar a quantidade de informação que absorve e transformá-la em algo que faça sentido para sua vida? De quem é esse papel, que não da escola?”, salienta.

Entendendo o ensino-aprendizagem como um processo contínuo, que acontece em todos os espaços e tempos, somam-se os recursos, os agentes e os conhecimentos. Valoriza-se tanto a história e a cultura local, como a abertura e manutenção de espaços para a inovação permanente. Promove-se o desenvolvimento da autonomia e o cuidado com o outro e com o meio, em relações democráticas conscientes da interdependência entre todos.

Quatro elementos principais caracterizam um Bairro-escola: Escolas Articuladoras, Rede Intersetorial, Fóruns Públicos e Diversidade Educativa.

Pegando esse gancho, Leandro Fialho, do MEC, também lembrou as experiências de Nova Iguacu, BH e o próprio Aprendiz, como exemplos de quebra de paradigmas e a lógica do espaço. Aproveitou para apresentar o “Programa Mais Educação”, desenvolvido em escolas públicas do país.

O Programa Mais Educação preconiza que o espaço de aprendizagem transcenda os muros da escola, conformando territórios educativos. Nesse sentido, é estratégico para a implementação da educação integral no Brasil que os espaços culturais existentes no entorno da escola sejam também compreendidos e utilizados como espaços educativos para o desenvolvimento de atividades escolares. Assim, ações que articulam práticas culturais e práticas pedagógicas fortalecem o projeto pedagógico da escola, contribuindo para qualificar o ensino e fortalecer a escola como espaço de vivência democrática. “O conceito de educação integral amplia o tempo, espaços, atores e conceito de território educativo.” Fialho destacou que a educação integral amplia as oportunidades para os estudantes. “É possível um currículo melhor, ampliado.” Para ele, o debate sobre a Cidade Educadora gera uma discussão sobre a democracia e novas funções da esfera pública. Enfatizou também a necessidade de o debate sobre a Base Nacional Comum da Educação Básica incorporar o conceito de educação integral. “A educação integral nos ajudou a romper o reforço escolar para apenas uma atividade de leitura e interpretação de texto”, enfatizou. “Estamos com 60 mil escolas de educação integral que recebem recurso de R$ 7 mil para comprar livro”, o que, para o profissional, é uma forma de reiterar o suporte dado ao programa.

Em se tratando de livro didático, chegou-se a um consenso de que os materiais oferecidos podem ser repensados de forma a colaborar para fortalecer o conceito de educação integral e integrada. Este repensar inclui integração de disciplinas e elaboração de atividades e estratégias criativas que possibilitem o protagonismo do aluno. Nesta visão, os apostilados estariam fora de cogitação, pois esse tipo de educação não aceita propostas rígidas e engessadas que não deem autonomia ao educador.

 

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