Mesa Redonda: Impacto das tecnologias disruptivas na vida, nos negócios e na educação

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O potencial que a tecnologia pode oferecer para o ensino e a aprendizagem baseou a discussão da última terça-feira, dia 26, no ciclo de debates promovido pela Abrelivros em seu estande na Rua C300, durante a Bienal do Livro em São Paulo.

A mesa-redonda mediada por Emerson Santos, diretor da Abrelivros, contou com o coordenador técnico pedagógico de Inovações e Novas Mídias da Editora FTD, Carlos Seabra, e José Manuel Moran, doutor em comunicação pela USP e autor do livro A educação que desejamos. Juntos eles debateram o Impacto das tecnologias disruptivas na vida, nos negócios e na educação.

Na abertura do debate, Emerson apontou três tendências atuais que impactam a vida do ser humano em seu cotidiano e na educação. A primeira delas é a internet móvel, que avançou tremendamente com celulares inteligentes, o que fez com que a preocupação em realizar ligações fosse substituída pelas diversas possibilidades de operações com esses aparelhos.

A segunda tendência é a internet das coisas, ou seja, a possibilidade de conectar o mundo físico com o mundo virtual por meio da web, o que faz com que a comunicação não se dê só entre pessoas, mas também entre objetos digitais.

Já a terceira grande mudança é o aparecimento da impressão em 3D, que oferece a possibilidade de tornar tangíveis ideias e projetos, possibilitando fazer da sala de aula um grande laboratório.

Escola do Futuro

Na sequência, José Manuel Moran relembrou os 25 anos da criação da Escola do Futuro na USP, quando já debatiam a necessidade da flexibilização da educação com um ensino híbrido, presencial e virtual.

Segundo ele, enquanto o mundo corporativo foi o primeiro a identificar os benefícios da tecnologia, a educação foi ficando para trás nesse movimento. “Uma pesquisa feita nos EUA observou que, enquanto 94% das universidades afirmavam que estavam preparando bem os seus alunos para o mercado de trabalho, 89% das empresas entrevistadas afirmaram que as universidades não estavam adequando seus alunos para o mercado. Ou seja, existe um descompasso entre as universidades e a vida real. Se isso acontece nos EUA, imagina aqui.”

Para exemplificar o alcance das descobertas, Moran citou algumas tecnologias e iniciativas inovadoras, entre elas o Skype, que até o final do ano operará com tradutor de voz simultâneo, o que facilitará a troca de multilinguagens e repercutirá em mudanças no cotidiano.

Moran lembrou também do “Fab Lab”, que emprega a cultura e o sistema Faça Você Mesmo, ou “Maker”, como é conhecido. São laboratórios que podem empregar a impressão 3D para retirar projetos do papel, imprimir e ver o resultado imediato. “Imagine isso para uma criança de 7 e 8 anos que pode conseguir, na escola, ver uma ideia sua se transformar em realidade.”

Ele ainda citou o livro Volta ao mundo em 13 escolas, que relata experiências inovadoras em escolas pelo mundo, tais como a realizada na Escola Pública Amorim Lima (SP), onde as salas de aula se integram através da tecnologia, possibilitando que os alunos interajam em projetos inovadores.

Entre os outros exemplos oferecidos está o programa Nave – Núcleo Avançado em Educação – que oferece ao ensino médio a possibilidade de jogar e aprender ao mesmo tempo. São escolas e programas que seguem o rumo de ideias também implantadas nos EUA, quando as escolas “high tech high” levam propostas inovadoras de gestão privada para as escolas públicas. Ali os alunos não aprendem por disciplinas, mas sim por projetos.

Existem hoje em dia, no Brasil e no mundo, diversas plataformas on-line em que são oferecidos cursos abertos gratuitos, os famosos “MOOC’s – Massive Open Online Course”. “Isso mostra que, para quem quer realmente aprender, existem milhares de possibilidades”, ressaltou Moran.

Moran ainda citou um portal internacional para avaliação de professores e universidades, mostrando o poder do usuário no digital; o “Blended Learning” que oferece estudos e vídeos sobre o ensino híbrido; o “Wiziq”, que oferece cursos on-line sobre como ensinar pela web, e o Duolingo, conteúdo “gamificado” que ensina línguas como se fosse um jogo, onde o usuário ganha pontos e vidas, passando de fase em fase.

Ele concluiu sua explanação afirmando que hoje a tecnologia abre um mundo de oportunidades para a educação formal, aberta e continuada. “Podemos aprender em todos os lugares, tempos e de múltiplas formas. A tecnologia pode ser libertadora, mas o ser humano acaba transformando isso em prisão.”

A tecnologia e o processo pedagógico

De posse do microfone, Carlos Seabra iniciou sua fala apontando que existe uma grande diferença entre o que é tecnologia e o que é artefato tecnológico. Para ele, tecnologia foi o que Robson Crusoé fez. Empregando apenas suas mãos e cérebro, conseguiu solucionar vários problemas de seu cotidiano na Inglaterra. Nesse sentido, segundo o coordenador, o livro digital atua como um potencializador, nos mesmos moldes de um megafone. “Se o livro for ruim no impresso, ele será péssimo no digital.”

Na visão de Seabra as escolas nem sempre fazem o uso adequado da tecnologia. “Enquanto a escola encara a tecnologia como um bezerro de ouro que deve ser adorado, ela, equivocadamente, proíbe o uso do celular.”, uma ferramenta que, de acordo com Seabra, pode gerar várias oportunidades de aprendizado. “Temos uma máquina mais potente que o computador da antiga nave Apolo 11 e o professor a proíbe em sala de aula. Ele não enxerga o processo pedagógico que este artefato permite.”

O profissional ainda defendeu o uso do “tablet” que, além de permitir a mobilidade, se equipara a um caderno educativo. Mas criticou a precária banda larga que limita o acesso e o compartilhamento em nuvem. “Estamos chegando a um momento em que a verificação de presença do aluno não será mais por chamadas, mas sim por um sensor; será possível que o professor monitore a saúde do estudante, e cada lâmpada da sala de aula terá um IP diferente.”

Nesse ponto, ele destacou o discurso inicial do mediador Emerson sobre a impressora 3D, afirmando que esse movimento “Maker”, além de poder integrar várias disciplinas, permite que se desenhe, modifique e que se envolva o estudante com pesquisas e referências. “É uma inovação que pode ser interligada à robótica, à prototipagem, agregando uma qualidade maior ao pensamento. Tudo é válido se tiver imaginação pedagógica. Se isso não existir, não haverá avanço tecnológico na escola.”

Um dos obstáculos que ele enxerga para a disseminação do digital é a expectativa do público, enquanto consumidor, de pagar menos quando comparado ao impresso. “O problema é que, paradoxalmente, o custo de um conteúdo digital é maior devido ao seu desenvolvimento e a questão do direito autoral. A conta então acaba não fechando. Será que à medida que vendermos menos papel e mais digital haverá o mesmo retorno financeiro que temos hoje?”

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Questionamentos

Na finalização dos trabalhos, Emerson Santos levantou a questão do por que, apesar de tantos benefícios e exemplos bem-sucedidos, ainda existirem dificuldades para a implantação tecnológica em larga escala.

O professor Moran argumentou que em educação nada é simples, pois, ao se passar de ações pontuais para a disseminação coletiva, quando é necessária a adaptação para públicos e realidades diferentes, o processo tende a se complicar.

Para Seabra, deve-se avaliar a rapidez com que as tecnologias vêm sendo absorvidas e adequadas ao cotidiano. Como exemplo, ele destacou a recente compra de tablets pelo governo e a entrada do livro digital no ensino fundamental. “Com isso, as editoras precisam ir para as escolas e interagir com essa nova realidade para adequar seus conteúdos. Hoje, o impresso possui informação em excesso e no digital isso não será mais possível. Lógico que não tem que ser do tamanho de um tweet, mas também não se pode exagerar”.

Construção do livro no futuro

A respeito do livro no futuro, Seabra enxerga que estes deverão ser mais interativos, com conteúdos relevantes em áudio e vídeo e com atualizações imediatas, utilizando modelos de compartilhamento como (talvez) o “streaming”.

Moran concordou, acrescentando que, neste cenário desafiador, há uma política firme de alguns governos para que se façam acordos com empresas de modo que os conteúdos sejam abertos para todos posteriormente. “Acredito que os modelos de negócios não serão ditados pelo número de usuários, mas sim pelas políticas públicas dos países, que estão pressionando para que os dados sejam abertos para todos. Mas esse é um processo que ainda levará uns 15 anos.”

Ele cita, como exemplo de compartilhamento de informação e mixagem, o Facebook, que, apesar de conter um grande número de fatos banais, acaba sendo uma fonte de informação rica para a ampliação do conhecimento. “Vivemos hoje um momento extraordinário de reelaboração e compartilhamento de informações.”

 

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