Livros de obras gerais e religiosos puxam desempenho do setor editorial brasileiro para cima

Dois segmentos do mercado editorial brasileiro puxaram o faturamente do setor para cima em 2024, de acordo com a Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, divulgada nesta quarta-feira (28): obras gerais e religiosos. Com aumentos nominais de 9,2% e 8,7% no valor de vendas ao mercado, respectivamente, os subsetores cresceram acima da inflação. Os resultados foram considerados bons pelos especialistas envolvidos na produção da Pesquisa.

Livros CTP (científicos, técnicos e profissionais) também apresentaram crescimento nominal (3,3%), porém abaixo da inflação do período, que segundo o IPCA foi de 4,83%. Apenas a categoria Didáticos registrou desempenho nominal negativo (-5,1%) de vendas ao mercado. Todos os números dizem respeito à comparação entre 2024 e 2023.

No total, editoras registraram um crescimento nominal de 3,7% nas vendas ao mercado em 2024, com um faturamento de R$ 4,2 bilhões. A Pesquisa é coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), com apuração da Nielsen BookData. Ao descontar a variação do IPCA, o setor teve um recuo de 1,1% nas vendas ao mercado.

O faturamento das editoras com conteúdo digital também apresentou alta nominal de 21,6% – somado à produção física, o número faz o setor ficar no positivo como um todo. O desempenho positivo com Conteúdo Digital possibilitou que o setor encerrasse 2024 com um crescimento real de 0,2%. Em 2024, os conteúdos digitais corresponderam a 9% no faturamento das editoras (impresso + digital), um aumento de 1 ponto percentual em relação ao ano anterior.

Foram 44 mil títulos produzidos em 2024, sendo 23% de lançamentos, e 366 milhões de exemplares (em 2023, foram 45 mil títulos produzidos e 320 milhões de exemplares). O número menor se relaciona com a menor compra de livros pelo governo. A variação nominal do preço médio foi de 2,9%, menor que o IPCA do período (4,83%).

Em canais de distribuição, houve pouca variação geral – as livrarias exclusivamente virtuais seguem como principal canal de vendas para as editoras, seguidas por livrarias.

No subsetor de Obras Gerais, houve um aumento da participação de livrarias (de 27,1% para 29,3% em faturamento) com uma queda em livrarias exclusivamente virtuais (51,8% para 48,8%). Por último, há em religiosos um crescimento acentuado tanto no canal “Distribuidores” (de 17,3% para 20,7% em faturamento) como em “Site da própria editora / Marketplace” (de 5,1% para 8,5%, também em faturamento).

Há um aumento em Didáticos da participação do canal “Escola e colégios” (de 19,9% para 22,5%, em faturamento). Mas como a categoria de Didáticos teve uma queda de -5,1% em faturamento nas vendas ao mercado, a importância como um todo do canal “Escolas e colégios” caiu.

Vendas ao governo
As vendas ao governo usualmente apresentam variações de volume e faturamento, especialmente de acordo com o ciclo do PNLD, de livros didáticos. No total, o setor viu um aumento de 12,7% em termos nominais no faturamento, de 20,5% no volume.

A má notícia se dá em relação ao PNLD Literário. O faturamento das editoras no programa caiu 93,7% em relação a 2023. As editoras faturaram R$ 20,5 milhões em 2024 – no ano anterior, o valor havia sido de R$ 323 milhões. O número de 2024 é o menor desde o início do programa, em 2018.

“Os dados refletem a realidade”, disse o presidente do SNEL, Dante Cid, na coletiva de imprensa de apresentação dos resultados. “Temos seguidos problemas de atrasos, e receio que isso vai acontecer de novo neste ano de 2025. Os atrasos se acumulam, e editoras ainda não foram autorizadas para entregar livros dos programas referentes a 2022. É um quadro triste”, avaliou. A presidente da CBL, Sevani Matos, também afirmou que a perspectiva para este ano é de contingenciamento das verbas do governo. “Nesse aspecto, não vejo nada favorável neste ano”.

Análises
“Embora tenhamos observado uma variação positiva abaixo da inflação nos livros físicos, se somarmos aos digitais, com o seu surpreendente crescimento de mais de 20%, todo o setor fica ligeiramente no positivo – o que dá um certo alívio”, afirma Dante Cid. “A única queda considerável fica por conta da categoria de Didáticos, em parte porque há uma expansão nos modelos de acesso ao conteúdo que, em certos casos, estão conectados diretamente aos sistemas de ensino. Nem sempre esses novos formatos são percebidos pela pesquisa, mas, segundo estimativas do próprio mercado, representariam, já, cerca de 50% do total da categoria.”

“O setor apresentou um bom resultado em 2024. Se excluirmos o desempenho negativo de Didáticos, as editoras registraram crescimento nominal de 7,8%, nas vendas realizadas ao mercado, o que em termos reais significa um aumento de 2,8%. O ano de 2024 também apontou crescimento da participação das livrarias no faturamento das editoras de Obras Gerais. Mais uma vez observamos a importância de ‘Site da Própria Editora/Marketplace’, consolidado como importante canal para as editoras de Didáticos e CTP e ampliando sua relevância para as editoras de Religiosos, porém com pouca representatividade para editoras de Obras Gerais”, destaca Mariana Bueno, coordenadora de pesquisas econômicas da Nielsen BookData.

Gêneros
Pela primeira vez, o estudo apresenta desempenho por gênero de livro – ou seja, em relação a estes números em específico, os livros são separados pelo seu conteúdo em si, e não pela atividade principal das editoras. Divididos em cinco categorias – Didáticos, Ficção Adulto, Não Ficção, Infantil e Juvenil, e Religioso – os resultados aproximam o estudo brasileiro aos realizados em outros lugares do mundo.

Não ficção adulto representa 28,5% da categoria em vendas ao mercado, atingindo a R$ 1,2 bilhões em faturamento, e 22,66% do número total dos exemplares vendidos. Logo em seguida vêm Didáticos, com participação de 27,2% das vendas ao mercado e um total de R$ 1,14 bilhões de faturamento (e 10,8% do total dos exemplares vendidos). Ficção Adulto e Religiosos quase empatam na participação do mercado em faturamento (15,7% e 15,6%, respectivamente), mas nas vendas de exemplares, Religiosos fica à frente de todos, com 29,5% dos exemplares vendidos. Ficção teve 18,7% no total de exemplares vendidos. Por fim, Infantil e Juvenil teve 13% de participação no faturamento do mercado e 18,4% no total de exemplares vendidos.

“A pesquisa deste ano traz uma novidade importante ao apresentar pela primeira vez os resultados de venda por gênero. Isso não apenas alinha o Brasil com práticas de mercados mais maduros, mas também nos permite uma análise mais detalhada e estratégica. Observamos que a categoria de Não Ficção Adulto lidera em faturamento, representando 28,5% das vendas ao mercado, enquanto os livros Religiosos dominam em número de exemplares vendidos, com 29,5% do total. Esses dados revelam uma diversificação interessante nas preferências dos leitores brasileiros, indicando uma busca por conteúdo que vai além do entretenimento, abrangendo também conhecimento e espiritualidade. Essa diversidade é um reflexo da riqueza cultural do nosso país e abre novas oportunidades para editoras explorarem nichos específicos e atenderem melhor às demandas do público”, afirma Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Livros digitais
Único estudo sobre o tema no país, a Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro tem pela sexta vez nesta edição o relatório do segmento divulgado, apresentado desde 2020. Essa é outra parceria entre a CBL e SNEL, com apuração da Nielsen BookData. O faturamento das editoras com conteúdo digital apresentou alta nominal de 21,6% (com R$ 412,5 milhões faturados). Quando considerada a inflação do período o crescimento é ainda forte: 16%.

Em relação a produção, o setor conta com um acervo de 135 mil títulos, e 11% deles foram lançamentos. Além disso, o e-book representa 91% da produção, e, audiolivros, 9%. “É importante lembrar que em 2023 tivemos a entrada de um player muito forte no áudio, então vamos começar a ver esses resultados a partir de 2024”, destacou Mariana Bueno durante a apresentação do estudo, se referindo à Audible, sem citar o nome da empresa.

Houve ainda um crescimento de 4 p.p. nos lançamentos de áudio em relação a 2023, com o gênero de Ficção representando 53% desse crescimento.

Nas vendas, foram faturados R$ 171 milhões com unidades à la carte, mais uma vez com o e-book representando 97% do valor. Em relação a 2023, o crescimento foi de 5,5% nessa modalidade – em que o leitor adquire o livro para si em alguma das plataformas. Vale destacar também o crescimento do modelo por assinatura, que apresentou alta de 64% de faturamento – e com o áudio, desta vez, representando 39% das vendas.

Mais uma vez, o crescimento do digital como um todo é resultado fundamentalmente do desempenho das Bibliotecas Virtuais, que registrou alta nominal de 47,6% e representa 44% do faturamento das editoras com conteúdo digital. O desempenho positivo possibilitou que o setor livreiro encerrasse 2024 com um crescimento real de 0,2%. Em 2024, os conteúdos digitais corresponderam a 9% no faturamento das editoras (impresso + digital), um aumento de 1 ponto percentual em relação ao ano anterior.

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