Escolas privadas trocam livros por apostilas e mercado de usados se adapta em BH

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A rotina de buscar ofertas de livros usados e trocar volumes em feiras já não existe na vida de parte dos pais de estudantes de escolas particulares em Belo Horizonte. Um movimento iniciado há décadas está se intensificando na rede privada na capital e em todo o país: em vez de adotarem livros, as escolas aderem a sistemas de ensino que fornecem apostilas, nas quais os estudantes escrevem diretamente. Constantemente atualizadas, elas não podem ser vendidas no ano seguinte e o movimento obriga vendedores de livros usados e as finanças dos pais a se adaptarem.

O presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (SinepeMG), Winder Souza, atesta que a maioria das escolas privadas está migrando para esse sistema, se ainda não migrou. Para ele, é um ganho na aprendizagem, pois as apostila são atualizadas com uma agilidade maior que os livros e as disciplinas dialogam mais entre elas, por exemplo. “Hoje, é difícil encontrar uma escola que não tenha sistema de ensino. Você não está comprando um livro, mas um sistema com uma plataforma por trás. O aluno terá um código para entrar nela, treinamento para seus professores e apoio didático, além do material impresso”, pontua.

Por outro lado, pais reclamam que o material didático dos sistemas de ensino não podem ser reaproveitados e, por isso, encarece a lista de início de ano letivo. “São livros que a criança utiliza muito como atividade e não tenho coragem de comprar um usado, porque as respostas ficam lá, por mais que apaguemos. Acho que isso só deixa o material mais caro. Acho importante a criança escrever no caderno para memorizar mais e esse modelo não acrescentou nada”, pontua a médica Maria Luísa Toscano, 44, que tem filhos em diferentes níveis escolares em BH, de 3, 7 e 11 anos.

“Isso só faz gastar mais, no final das contas. No ano passado, os recursos online foram muito pouco utilizados na escola e os materiais que vinham nas apostilas [para as crianças escreverem diretamente neles] poderiam ser substituídos por materiais avulsos. Isso teria um custo menor e geraria menos impacto ambiental, que é uma preocupação da nossa família”, concorda a professora Ludmila Murta, 40, mãe de duas crianças, de 8 e 2 anos.

O segundo vice-presidente da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), Ricardo Tavares, avalia que a tendência de adoção dos sistemas de ensino, que se iniciou há pelo menos cinco décadas, segundo ele, não tem volta. “Hoje, aproximadamente 60% das escolas privadas brasileiras utilizam sistemas de ensino. Na educação infantil, os livros didáticos ainda prevalecem, mas, na outra ponta, no ensino médio, arrisco dizer que chegaremos, neste ano, a 85% das escolas utilizando os sistemas de ensino”, diz.

Ele explica que até as editoras tradicionais, como a FTD Educação, que ele dirige, investem nos sistemas de ensino atualmente. Ele reconhece que o material não pode ser reutilizado de um ano para o outro, mas afirma que, no geral, é mais barato do que os livros. “O valor médio dos livros didáticos novos para os ano finais do ensino fundamental é R$ 2.000. Um sistema de ensino custa, em média, R$ 1.500”, aponta.

A adoção dos sistemas de ensino na rede privada impõe mais uma diferença entre ela e a rede pública. Uma das demandas da Abrelivros ao governo federal é a adoção dos sistemas nas escolas públicas, contudo, por enquanto, essa mudança tem dependido de ações municipais, diz Tavares. “É possível melhorar muito o ensino público. Alguns municípios estão adquirindo os ecossistemas com recurso próprio”, pondera.

Vendedores de livros usados se adaptam a novo mercado

O proprietário da Galeria do Livro, no centro de BH, Rogério Américo, diz que o faturamento com livros didáticos recuou 70% nos últimos anos. Sua alternativa para evitar mais perdas foi migrar para as vendas online, com as quais alcança o Brasil inteiro. “As apostilas tiraram a nossa demanda há uns três, quatro anos. Nosso movimento caiu bastante. De vez em quando, aparecem pais, mas para procurar livros usados de literatura”, diz.

Por outro lado, a papelaria João Paulo II, na Savassi, assiste a um “boom” de venda de usados neste ano, de acordo com o proprietário, João Paulo Azevedo. Ele diz que grandes colégios da cidade ainda utilizam os livros e que, na busca por economia, os pais têm aumentado a demanda pelos volumes de segunda mão. “Os usados são pelo menos 40% mais baratos que o livro novo. E os livros estão bem mais conservados, principalmente pela conscientização das famílias”, pontua. Além da alta na venda de usados, ele diz que a busca por itens de papelaria — que ficaram até 63,4% mais caros em 2023, segundo pesquisa do Mercado Mineiro — também explodiram. “Com os dois anos em que as famílias ficaram em casa devido à pandemia, estão vindo fazer compras com todos, como se fosse um passeio”, finaliza.

Publicado por Gabriel Rodrigues – O TEMPO em 25/01/2023.

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