Após longa e tenebrosa primavera, eis que finalmente consigo retomar estas cartas do front… Mil desculpas aos leitores, mas mudanças pessoais e profissionais me impediram de atualizar a coluna nos últimos meses.
Uma das novidades desse período foi que deixei de ser editora executiva na Moderna para assumir a gerência de pesquisa e desenvolvimento de conteúdos digitais nas Edições SM, onde estou desde novembro.
Mas agora o verão chegou, assim como 2012, e cá estamos nós, às vésperas de mais um ano letivo.
E o grande “game changer” no cenário brasileiro será, para variar, o governo federal. Como esta coluna adiantou em agosto do ano passado, o MEC anunciou há alguns meses o primeiro edital do Programa Nacional do Livro Didático a incluir conteúdo digital – o PNLD 2014.
O motivo da mudança, segundo Rafael Torino, diretor de ações educacionais do FNDE, é que “os conteúdos multimídia oferecem novas possibilidades de trabalho aos professores e de aprendizado aos alunos” (veja o texto no site do governo e a matéria do PublishNews).
Destinado aos anos finais (6º a 9º) do ensino fundamental na rede pública, o edital dá às editoras a opção de produzir conteúdo digital associado aos livros. Cada volume poderá ter de 10 a 100 objetos educacionais digitais complementares a ele, a serem entregues via DVD-ROMs e via internet.
O resultado dessa iniciativa governamental é que, da noite para o dia, começou uma corrida ao ouro nas editoras didáticas. Iniciativas que até então se restringiam a gigantes como Moderna e Saraiva passaram a fazer parte da rotina de médias e pequenas – e até das grandes que vinham relevando o assunto, como a FTD.
O efeito cascata tem sido torrencial. São novos profissionais, novos fornecedores, novas negociações, novos fluxos e procedimentos a incorporar, em poucos meses, a um cotidiano até então estável.
Como se isso não bastasse, o mercado particular também vem garantindo fortes emoções. Já no segundo semestre de 2011, boa parte das editoras começou a sofrer pressão das maiores escolas de São Paulo para oferecer conteúdo para tablets das plataformas iOS (Apple) e Android (Google).
E o consenso entre os coordenadores de tecnologia educacional dessas escolas é que em 2012 a pressão deve aumentar…
A correria não é à toa. Afinal, se o governo vai dar tablets, kits multimídia e conteúdo digital para a rede pública em 2014, como ficarão as escolas particulares que não fizerem a mesma transição ao longo de 2012 e 2013?
E é assim que, em questão de poucos anos, um inocente edital pode vir a mudar profundamente todo um segmento do mercado editorial brasileiro – um segmento que, em 2010, foi responsável por 32% dos títulos editados e 47% do faturamento do setor.
Pedagogia “da marquetagem”?
Mas não é só o governo que contribui para esse cenário. Há a demanda de pais e alunos por uma escola mais sintonizada com os dias de hoje. E há o consenso, cada vez mais amplo, de que a tecnologia educacional tem ao menos uma vantagem clara: o aumento no envolvimento dos alunos.
Segundo um estudo do final de 2010 feito pela Cengage , editora do segmento universitário, 58% dos professores concordam com essa afirmação – e 71% dos que têm alunos altamente motivados veem grandes benefícios em usar as TICs (tecnologias da informação e comunicação) na sala de aula.
Só que não basta a motivação aumentar: para que o investimento no digital se justifique, o desempenho dos alunos também precisa melhorar. Do contrário, ficaremos sempre reféns do estigma da “pedagogia da marquetagem”, nas palavras do colunista Elio Gaspari.